O Médoc é toda a faixa de terra
ao norte de Bordeaux entre o Atlântico e o grande estuário da Gironda, a união
dos rios Garonne e Dordogne. Todos os seus vinhedos residem a poucos
quilômetros a leste da margem do estuário, em uma série de montes baixos,
planaltos, de solos mais ou menos pedregoso, separado por riachos conhecidos
como “jalles”, cujo leito é cheio de aluvião, que são depósitos de sedimentos
clásticos (areia, cascalho e/ou lama) formados por um sistema fluvial no leito
e nas margens da drenagem, incluindo as planícies de inundação e as áreas
deltaicas, com material mais fino extravasado dos canais nas cheias. No século
XVII, engenheiros holandeses cortaram esses “jalles” para drenar os novos
vinhedos. Seu papel é vital na manutenção do lençol freático sob as terras do
interior.
A proporção de pedras (cascalhos
grandes ou pequenos seixos) no solo é mais alta na região de Graves, ao sul de
Bordeaux, e gradualmente diminui conforme o rio Garonne avança pelo Médoc. Mas
tais depósitos são sempre desiguais, e o solo e o subsolo têm proporções
variadas de areia, cascalho e argila. O limite setentrional do Haut-Médoc é
onde o conteúdo de argila realmente começa a dominar o cascalho, ao norte de
Saint-Estèphe.
O plantio dos “croupes”, os
planaltos de cascalho, aconteceu em um século de grande prosperidade para
Bordeaux sob seu “parlement”, cujos membros nobres são lembrados em muitas das
propriedades que eles cultivaram entre 1650 e 1750. O Médoc era o vale do Napa
da época, e os Pichon, Rauzan, Ségur e Léoville eram os Krug, Martini de la
Tour, e Beringer de peruca.
O estilo e a importância do vinho
desses grandes não tiveram paralelos em nenhuma outra parte. De alguma forma
maravilhosa, a pobreza do solo, o vigor das vinhas, a brandura do ar e até
mesmo a luz perolada beira-mar pareciam estar envolvidos. É claro, é
coincidência (além de um terrível trocadilho) que a palavra “claridade” seja
tão próxima de “clarete”, mas parece se adequar à cor, ao cheiro, à textura, ao
corpo e ao sabor do Médoc.
Os séculos só confirmaram o que
os primeiros investidores aparentemente sabiam por instinto: que os bancos de
cascalho à margem do rio produzem os melhores vinhos. Os nomes que surgiram
primeiro sempre estiveram à frente. A noção de “premiers crus” é tão antiga
quanto as próprias terras.
Hoje, o Médoc é dividido em oito
denominações de origem: cinco delas limitada a uma única comuna (Saint-Estèphe,
Pauillac, Moulis, Listrac e Saint-Julien); uma (Margaux) a um grupo de cinco
pequenas comunas; outra (Haut-Médoc) à combinação de partes de igual mérito
fora das seis primeiras; e a última, Médoc, para a extremidade norte do
promontório.
DENOMINAÇÃO DE ORIGEM MÉDOC
O Baixo Médoc (localizado mais ao
norte, seguindo o Gironda) era antes chamado de Bass-Médoc, o que deixava claro
que era esta área, e não toda a península, que estava em discussão. Os solos, e
portanto os vinhos, são considerados inferiores aqui. O último dos cascalhos de
grande calibre foi depositado por geleiras entre Graves e Saint-Estèphe.
Embora o solo continue a se
elevar gentilmente, as corcovas se tornam mais espaçadas e o solo muito mais
pesado, com uma grande proporção de argila pálida e fria, mais adequada ao
Merlot que ao Cabernet (embora persistam faixas de solo mais arenoso).
Notadamente, o vinho tem menos
delicadeza e perfume, mas bom corpo e estrutura com alguns dos “cortes” tânicos
que tornam todos os vinhos do Médoc tão bons à mesa. As boas safras duram bem
nas garrafas, sem desenvolver as complexidades adocicadas do Alto Médoc em sua
melhor forma.
A última década viu um grande
ressurgimento de interesse por esta área produtiva. Algumas grandes
propriedades já se prepararam e hoje oferecem um bom negócio, embora não uma
completa barganha. Em 1972, havia 1.836 hectares em produção na denominação Médoc.
Em 2006, esse número havia subido para 5.580 hectares.
A comuna mais importante é
Bégadan, com várias propriedades mais proeminentes. Cerca de um terço da
produção de toda a denominação vem dessa única área. Em seguida, em ordem de
produção, estão Saint-Yzans, Prignac, Ordonnac, Blaignan, Saint-Christoly e
Saint-Germain.
CHATEAU LA HOURCADE
O Italiano Septímio Cecchini,
chegou no Médoc na década de 40, tornando-se proprietário de uma propriedade
com 40 acres em Jau-Dignac-et-Loirac. No início, foi o plantador, o enólogo e
ainda carteiro, pois precisava sustentar uma família de oito filhos.
Dos 40 acres iniciais a
propriedade prosperou, chegando aos 4 hectares atuais. No final da década de
80, um dos filhos do Senhor Septímio, Gino, assumiu a propriedade e decidiu
desenvolver a comercialização dos seus próprios vinhos, pois até este momento
toda a produção era vendida para a Cooperativa.
Gino vem ampliando a propriedade
continuamente, investindo em suas duas paixões, vinhos e cavalos!
65% dos seus vinhedos são
formados por Cabernet Sauvignon e 35% Merlot. O solo da propriedade é formado
por cascalhos e argila do rio Garonne. Suas vinhas possuem idade entre 20 e 25
anos. A colheita é mecânica e as uvas são classificadas manualmente.
Degustei o Château La Hourcade
2012. Um blend de Cabernet Sauvignon e Merlot, de cor vermelha profunda e
reflexos violáceos. Um vinho jovem de cor rubi com reflexos violáceos.
Calmamente, coloquei para arear durante uma hora. Seus aromas lembram frutas
negras, como amoras negras, especiarias picantes e muita mineralidade. Notas de
chocolate amargo podem ser observadas de forma ligeira. Na boca, toda a
mineralidade vem à tona, com muita especiarias, menta e pimentas. A acidez está
magnifica, taninos macios, uma boa maturação da fruta e um corpo médio.
Harmonizei com uma alcatra cozida com batatas e ficou perfeito!