Para obtermos um bom vinho é necessário que as uvas
amadureçam gradualmente, produzindo aromas complexos e concentrados, enquanto
mantém a correta proporção de acidez, desenvolvendo frescor, crocância,
balanceado e integrado.
Equilíbrio entre o açúcar, a acidez, a maturação e a
concentração. Mas isso é complexo! Muita acidez, ou seja, uvas sem a maturação
correta, produzem vinhos muito tartáricos! O clima muito quente ajuda o açúcar,
mas diminui a acidez! Excesso de água, principalmente próxima à colheita, uvas
inchadas de água, vinhos diluídos demais!
E se estas condições ocorrerem de forma invertida ao ciclo
normal da uva no hemisfério sul?
O inovador sistema de dupla poda, ou inversão de ciclo,
permite que a colheita das uvas seja feita no inverno, quando as condições do
terroir estão perfeitas para a elaboração de um grande vinho! E no inverno do
sul de Minas Gerais encontramos estas características climáticas, permitindo as
melhores condições para o amadurecimento da uva, com períodos secos e com
temperaturas amenas e contrastantes entre os dias e as noites.
Situada na zona cafeeira do sul de Minas Gerais, a Luiz
Porto Vinhos Finos conta com 15 hectares de vinhedos próprios, implantados em
2005. Com cerca de 45 mil plantas provenientes da região de Bordeaux, na
França, o vinhedo tem potencial para produzir mais de 55 toneladas de uvas a
cada inverno e 50 mil litros de vinho fino por ano.
Uma moderna vinícola associa espaço e tecnologia na
elaboração de vinhos finos. Contando com tanques em aço inox, barricas de
carvalho francês e americano e todo maquinário importado da Itália, a Luiz
Porto Vinhos Finos consegue processar suas uvas totalmente, desde o vinhedo até
o engarrafamento. Cuidando de tudo nos mínimos detalhes, a vinícola busca fazer
parte do novo tempo da vitivinicultura brasileira e ampliar sua geografia. Seu
solo é do tipo Latossolo vermelho com textura argilosa, com boa variação mineral
e drenagem, fase cerrado, relevo plano e suave ondulado.
Degustei todos os vinhos da Luiz Porto e, algo comum à todas
as cepas, destaco a perfeita maturação fenólica, gerando vinhos equilibrados,
de bom corpo, fruta e acidez em total equilíbrio.
Minha primeira experiência com seus vinhos foi através do
Dom de Minas Syrah. Uvas colhidas manualmente, com cachos cuidadosamente
selecionados, maceração breve com cascas, com ligeira passagem pela madeira.
Possui uma cor intensa e tonalidade vermelho rubi. Notas suaves de frutas,
cerejas, amoras, toques de caramelo, fumaça e baunilha. Um vinho leve,
elegante, muito bem estruturado, sedoso, com taninos suaves e persistente no
final de boca.
O Cabernet Franc passou 12 meses de barricas francesas
amadurecendo em contato com as borras finas de leveduras “Sur lies”. Um
excelente vinho para acompanhar as comidas intensas e condimentadas de Minas
Gerais. Os aromas de especiarias, com algo herbáceo, estão muito vivos,
seguidos de frutas que lembram amoras, morangos e um tutifruti muito
refrescante! Está muito equilibrado e gostoso de ser bebido!
O Merlot está leve, jovem e com uma maturação muito rápida
na madeira que preservou suas frutas e seu frescor! A maturação foi perfeita, o
vinho traz aromas de especiarias, frutas passas, algo terroso puxando para
cogumelos. Notas ligeiras de café e tabaco podem ser sentidas. Em boca, está
muito equilibrado, com textura aveludada, acidez refrescante, estrutura
adequada. Sua coloração está viva, boa
intensidade de cor e tonalidade vermelho rubi.
Entre os tintos, confesso que o Cabernet Sauvignon me
surpreendeu muito! Sou muito enjoado com Cabernet Sauvignon, pois é muito
plantada em qualquer lugar gerando vinhos quase sempre verdes, sem corpo e sem
a maturação necessária.
O Cabernet Sauvignon está maduro, com boa concentração,
frutado e acidez no ponto exato. A pirazina, também conhecida por
2-metoxi-3-isobutil, foi muito bem eliminada pela excelente maturação.
Particularmente, me incomoda muito os aromas verdes, terrosos e de pimentão
verde trazidos por esta substância muito presente em uvas que não foram
perfeitamente maturadas.
A fermentação foi através de uma maceração de duas semanas e
o vinho passou 12 meses em barricas francesas. Somente 2.000 garrafas foram
produzidas. Possui uma cor intensa e vibrante. Seus aromas trazem notas
balsâmicas, especiarias e um toque de chocolate com tabaco. Em boca, podemos
sentir toda sua estrutura e peso, taninos aveludados e com grande persistência.
Eu gosto muito dos vinhos produzidos com a uva Sauvignon
Blanc, uma cepa especial que desperta paixões entre os enófilos. O fato é que a
Luiz Porto produziu um excelente Sauvignon Blanc que lembra os vinhos do Limari
no Chile. Talvez seja os aromas de arruda e grama verde, ou a acidez marcante. Junto
com a arruda, sente-se a força da fruta tropical, algo como maracujá, manga e
goiaba. Está perfeito para acompanhar um bom “Ceviche” como o que eu preparei
abaixo!
Deixei para comentar o Chardonnay por último, pois considero
este vinho da Luiz Porto uma obra de arte. Passei alguns meses nos USA, onde
degustei muitos Chardonnay e posso garantir que este Chardonnay Mineiro é
realmente especial.
Com uma produção de 2,5kg por planta, colhido manualmente,
passou por prensagem direta das uvas inteiras e fermentação integral dentro dos
barris de carvalho. Um amadurecimento de 12 meses em barricas francesas em
contato com as borras finas de leveduras “Sur lies”.
O resultado é um vinho maduro de grande complexidade
aromática. Brilhante e denso, amarelo dourado. Aroma intrigante e rico de
sensações como frutas em calda, amanteigado, especiarias, amêndoas, fumaça e
chocolate branco. Paladar intenso, equilibrado, untuoso, com acidez marcante e
grande concentração e persistência do sabor. Este vinho se diferencia porque
consegue associar a potência com a elegância, o que o torna especial e
diferenciado.
O Luiz Porto Chardonnay combina a concentração do vinho e o
amadurecimento em carvalho, resultando num vinho de fácil harmonização com
pratos leves, a base de peixes e frutos do mar, ou com pratos de sabor mais
intenso como carnes assadas, frango com quiabo, canjiquinha com costelinha,
arroz com suã, frango ao molho pardo, dourado à Mineira.
Ainda não degustei os espumantes, o que farei nas próximas
semanas!
Um fato muito pitoresco que gostaria de dividir com vocês,
refere-se a um grande problema que a Luiz Porto enfrenta e que apesar de ser
tratado com bom humor, pode trazer sérios prejuízos. São os tucanos que atacam
as videiras e comem cachos inteiros das uvas. Para se ter uma ideia, a produção
de Tempranillo foi severamente atingida! Várias soluções foram tentadas sem
muitos resultados, por fim, a Empresa investiu em telas de proteção que são
estendidas por sobre os vinhedos.
Para concluir, tenho a percepção de que muitos Terroirs
serão descobertos a partir do processo de inversão de ciclo.
Adorei seu relato. Fiquei bastante curiosa em conhecer a vinícola e seus vinhos!
ResponderExcluirParabéns meu irmão...ficou 10...abs.
ResponderExcluirMe surpreendi com esta poesia feita em silêncio! Só poderia ser
ResponderExcluirum Sommelier estudioso que nos prestigia com os Vinhos do terroir
mineiro!! Um trabalho belíssimo dentro do Mundo do Vinho!Parabéns!