terça-feira, 25 de março de 2014

VINUM REGUM, REX VINORUM



Somente a França e a Alemanha têm tradições de vitivinicultura de qualidade mais antigas e mais evoluídas que os vinhedos famosos da Hungria!


A Hungria é rica em uvas autóctones de caráter marcante, com potencial de contribuir com vinhos esplêndidos na cena mundial. A mais notável de todas é a poderosa Furmint, a uva dominante do Tokaji, que, comumente atacada pela podridão nobre (botrytis).


Dentre todas as regiões húngaras, Tokaji é a principal, muito acima das outras regiões vinícolas de toda a Europa Central e do Leste Europeu, produtora de vinho indiscutivelmente luxuoso e lendário.


Tokaji (Tokay é a grafia ocidental do nome) de colheita tardia, suntuosamente rico era a escolha dos czares russos, os reis da Polônia, e dos imperadores da Áustria – até mesmo Luís XIV da França. Foi quase certamente o primeiro vinho a ser feito propositadamente de uvas secas por botrytis.


Por volta de 1700, os vinhos de Tokaji eram tão importantes que o seu soberano, o príncipe da Transilvânia (da família Rakoczi) criou a primeira classificação de vinhedo registrada, enquadrando os vinhedos de Tokaji em lotes “primae”, “secundae” e “tertiae”.

Em alguns aspectos, o Tokajhegyalya (Montes Tokaji) compara-se com a Côte D`or da Borgonha. Os vinhedos ocupam uma área semelhante na parte inferior e nos meios das encostas, apesar de seus morros serem muito mais altos. Os melhores locais tendem a ser nas encostas mais baixas, alguns em solo vulcânico puro, outros em loess morno e claro. Além disso, os crescimentos de primeira, segunda e terceira classes correspondem, até certo ponto, aos grands e premiers crus e vinhos de aldeias da Borgonha.




O tempo da colheita é muito tardio, atrasado, de preferência até que o sol, alternando com noites de neblina (os rios Bodrog e Tisza contornam as colinas), produzam uma grande infestação de botrytis. Mas, ao contrário de Sauternes, ou qualquer outro vinho, Tokaji Aszú é feito em duas fases: inicialmente, um vinho “base” totalmente fermentado; depois, uvas secas (aszú), murchas por botrytis ou simplesmente desidratadas, são colhidas e maceradas com o vinho base ou o mosto, refermentando tudo para absorver a sua doçura e seus aromas altamente concentrados.


Tais vinhos, com intensa e concentrada doçura, aromas de fruta seca, equilibrados em sua acidez marcante, podem ser extremamente penetrantes quando são jovens, deixando a boca com uma nitidez limpa apesar de seu alto teor de açúcar. Com a idade, eles ganham corpo e complexidade mágicos, sem perder sua característica limpa e fresca. Os vinhos mais ricos das melhores safras podem envelhecer tranquilamente por até um século ou mais.


As categorias seguintes são as clássicas para os vinhos Tokaji, embora algumas, especialmente Szamorodni, estejam agora sendo substituídas por estilos de colheita tardia menos específicos.

Tokaji Szamorodni

Este é o Tokaji como vem – ou seja, os vinhos inferiores, doces (édes) ou secos (száraz), de acordo com a quantidade de uvas aszú (botritizadas) usadas.

Tokaji Aszú

Como Tokaji Szamorodni, vinhos Aszú só podem ser feitos em anos nos quais há quantidade suficiente de uvas aszú de alta qualidade – ou seja, uvas infectadas com podridão nobre (Botrytis Cinerea). Uvas aszú  desengaçadas e colhidas à mão são armazenadas de seis a oito dias e então esmagadas e transformadas em uma polpa que é adicionada a um vinho Tokaji base, ou a um mosto, pelo puttony (um recipiente de 20-25 quilos). A doçura final depende do número de puttonyos adicionados aos barris de 136-140 litros (chamados gönci) de vinho base de um ano ou mosto não fermentado ou em fermentação – geralmente 4, 5 ou 6 puttonyos; 6 é para os vinhos mais finos. (O sistema puttony descreve uma proporção de pasta para o vinho, mas hoje ninguém usa essas medidas específicas). Em seguida, o vinho é macerado e misturado por até 48 horas, acomodado nas prateleiras, fermentado e então envelhecido em pequenos barris de carvalho por no mínimo dois anos e mais um ano em garrafa. As garrafas costumavam ser armazenadas úmidas da região, mas hoje são mais comumente deitadas.

Tokaji Aszú Esszencia

A colheita e a vinificação são a mesma do Tokaji Aszú, mas, para esse vinho, o teor de açúcar é superior a 6 puttonyos. A fermentação pode levar anos para ser concluída, e o vinho acabado é envelhecido por pelo menos três anos em carvalho e mais dois em garrafa.

Tokaji Esszencia

Enquanto as uvas aszú são armazenadas antes de ser esmagadas, a pressão de seu próprio peso produz uma pequena quantidade de suco altamente concentrado no fundo do barril (um puttony rende apenas 142 mm dessa essência).

Permite-se então que o suco fermente muito lentamente por muitos anos em barris de carvalho. Na prática, ele quase não fermenta e o nível de álcool raramente excede três graus. O teor de açúcar é alto demais.

Degustação


Degustei o Tokaj Kereskedőház Zrt. 2008, 3 puttonyos.


Um vinho muito bonito visualmente com uma coloração amarelo dourado com muito brilho.

Aromas de mel, doce de laranja, flores de laranjeiras e frutas brancas maduras.


Em boca, uma alta acidez muito bem equilibrada com a doçura.

Harmonizei com um queijo Brie. Foi uma harmonização por contraste muito feliz, pois o sal do queijo criou uma perfeita simetria com a doçura do vinho e a acidez provocou uma gostosa sensação de limpeza ao passar pela gordura.


Um belo vinho que nos remete à importância da história, da geografia, da biologia e da química no estudo dos vinhos!


VINUM REGUM, REX VINORUM

Ou seja,


O Vinho dos Reis, o Rei dos Vinhos 

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