Somente a França e a Alemanha têm
tradições de vitivinicultura de qualidade mais antigas e mais evoluídas que os
vinhedos famosos da Hungria!
A Hungria é rica em uvas
autóctones de caráter marcante, com potencial de contribuir com vinhos
esplêndidos na cena mundial. A mais notável de todas é a poderosa Furmint, a
uva dominante do Tokaji, que, comumente atacada pela podridão nobre (botrytis).
Dentre todas as regiões húngaras,
Tokaji é a principal, muito acima das outras regiões vinícolas de toda a Europa
Central e do Leste Europeu, produtora de vinho indiscutivelmente luxuoso e
lendário.
Tokaji (Tokay é a grafia
ocidental do nome) de colheita tardia, suntuosamente rico era a escolha dos
czares russos, os reis da Polônia, e dos imperadores da Áustria – até mesmo
Luís XIV da França. Foi quase certamente o primeiro vinho a ser feito
propositadamente de uvas secas por botrytis.
Por volta de 1700, os vinhos de
Tokaji eram tão importantes que o seu soberano, o príncipe da Transilvânia (da
família Rakoczi) criou a primeira classificação de vinhedo registrada,
enquadrando os vinhedos de Tokaji em lotes “primae”, “secundae” e “tertiae”.
Em alguns aspectos, o
Tokajhegyalya (Montes Tokaji) compara-se com a Côte D`or da Borgonha. Os vinhedos ocupam uma área semelhante na parte inferior e nos meios das encostas,
apesar de seus morros serem muito mais altos. Os melhores locais tendem a ser
nas encostas mais baixas, alguns em solo vulcânico puro, outros em loess morno
e claro. Além disso, os crescimentos de primeira, segunda e terceira classes
correspondem, até certo ponto, aos grands e premiers crus e vinhos de aldeias
da Borgonha.
O tempo da colheita é muito
tardio, atrasado, de preferência até que o sol, alternando com noites de
neblina (os rios Bodrog e Tisza contornam as colinas), produzam uma grande
infestação de botrytis. Mas, ao contrário de Sauternes, ou qualquer outro
vinho, Tokaji Aszú é feito em duas fases: inicialmente, um vinho “base”
totalmente fermentado; depois, uvas secas (aszú), murchas por botrytis ou
simplesmente desidratadas, são colhidas e maceradas com o vinho base ou o
mosto, refermentando tudo para absorver a sua doçura e seus aromas altamente
concentrados.
Tais vinhos, com intensa e
concentrada doçura, aromas de fruta seca, equilibrados em sua acidez marcante,
podem ser extremamente penetrantes quando são jovens, deixando a boca com uma
nitidez limpa apesar de seu alto teor de açúcar. Com a idade, eles ganham corpo
e complexidade mágicos, sem perder sua característica limpa e fresca. Os vinhos
mais ricos das melhores safras podem envelhecer tranquilamente por até um
século ou mais.
As categorias seguintes são as
clássicas para os vinhos Tokaji, embora algumas, especialmente Szamorodni,
estejam agora sendo substituídas por estilos de colheita tardia menos
específicos.
Tokaji Szamorodni
Este é o Tokaji como vem – ou
seja, os vinhos inferiores, doces (édes) ou secos (száraz), de acordo com a
quantidade de uvas aszú (botritizadas) usadas.
Tokaji Aszú
Como Tokaji Szamorodni, vinhos Aszú
só podem ser feitos em anos nos quais há quantidade suficiente de uvas aszú de
alta qualidade – ou seja, uvas infectadas com podridão nobre (Botrytis
Cinerea). Uvas aszú desengaçadas e
colhidas à mão são armazenadas de seis a oito dias e então esmagadas e
transformadas em uma polpa que é adicionada a um vinho Tokaji base, ou a um
mosto, pelo puttony (um recipiente de 20-25 quilos). A doçura final depende do
número de puttonyos adicionados aos barris de 136-140 litros (chamados gönci)
de vinho base de um ano ou mosto não fermentado ou em fermentação – geralmente
4, 5 ou 6 puttonyos; 6 é para os vinhos mais finos. (O sistema puttony descreve
uma proporção de pasta para o vinho, mas hoje ninguém usa essas medidas
específicas). Em seguida, o vinho é macerado e misturado por até 48 horas,
acomodado nas prateleiras, fermentado e então envelhecido em pequenos barris de
carvalho por no mínimo dois anos e mais um ano em garrafa. As garrafas
costumavam ser armazenadas úmidas da região, mas hoje são mais comumente deitadas.
Tokaji Aszú Esszencia
A colheita e a vinificação são a
mesma do Tokaji Aszú, mas, para esse vinho, o teor de açúcar é superior a 6
puttonyos. A fermentação pode levar anos para ser concluída, e o vinho acabado
é envelhecido por pelo menos três anos em carvalho e mais dois em garrafa.
Tokaji Esszencia
Enquanto as uvas aszú são
armazenadas antes de ser esmagadas, a pressão de seu próprio peso produz uma
pequena quantidade de suco altamente concentrado no fundo do barril (um puttony
rende apenas 142 mm dessa essência).
Permite-se então que o suco
fermente muito lentamente por muitos anos em barris de carvalho. Na prática,
ele quase não fermenta e o nível de álcool raramente excede três graus. O teor
de açúcar é alto demais.
Degustação
Degustei o Tokaj Kereskedőház
Zrt. 2008, 3 puttonyos.
Um vinho muito bonito visualmente
com uma coloração amarelo dourado com muito brilho.
Aromas de mel, doce de laranja,
flores de laranjeiras e frutas brancas maduras.
Em boca, uma alta acidez muito
bem equilibrada com a doçura.
Harmonizei com um queijo Brie.
Foi uma harmonização por contraste muito feliz, pois o sal do queijo criou uma
perfeita simetria com a doçura do vinho e a acidez provocou uma gostosa
sensação de limpeza ao passar pela gordura.
Um belo vinho que nos remete à
importância da história, da geografia, da biologia e da química no estudo dos
vinhos!
VINUM REGUM, REX VINORUM
Ou seja,
O Vinho dos Reis, o Rei dos Vinhos
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