Num primeiro momento, soa
estranho buscar uma harmonização como essa! Mas, se observarmos as
características de algumas frutas e vinhos, encontraremos muitas semelhanças
entre os seus componentes, como acidez, doçura, texturas. É importante definir
qual o Universo dos vinhos queremos trabalhar! Vinhos com acidez e doçura!
A cepa Gewürztraminer produz
brancos ricos, de cor amarelo-ouro e aromas intensos e perfumados (rosas e
jasmim), frutados (lichia, maracujá, maçã e peras maduras), com especiarias
marcantes (canela, cravo, nós-moscada).
Escolhi para esta harmonização um
vinho da África do Sul, Robertson Winery Gewürztraminer Late Harvest, safra
2011. Este Gewürztraminer é rico e denso, com notas florais típicas desta uva
de grande personalidade. Para deixar o vinho ainda mais interessante, uma
parcela de uvas botritizadas foi adicionada, conferindo ao vinho cativantes
notas de mel e um interessante toque frutado no palato. Resumidamente, um vinho
com boa acidez e doçura!
Comecei a harmonização com as
nozes! Nozes possuem um certo amargor, textura e untuosidade, deixando a língua
com uma leve camada de mousse. A harmonização é muito rica, pois a acidez do
vinho funcionou como um detergente, deixando a língua com uma sensação de
limpeza. A doçura se pronunciou e os aromas ficaram mais claros! Em seguida,
uma seleta de frutas secas e desidratadas, castanha, amendoim, passas,
amêndoas, macadamia foram usadas! A característica principal está na doçura, seguida
pela acidez! A doçura do vinho se pronunciou tornando-o um delicioso mel.
Fantástico! Esta seleta de frutas secas já ganhou um destaque! Terminei este
primeiro estágio com um damasco desidratado! Uma fruta que todos adoram, possui
uma excelente acidez e uma doçura marcante! A acidez foi enriquecida, trazendo
uma gostosa sensação de frescor! Muito interessante também! As três
harmonizações estão aprovadas.
Resolvi buscar uma harmonização
com uma fruta mais acida, e também exótica! Escolhi a Fisales. Uma fruta com
sabores marcantes, um pouco amarga, ácida e de pouco açúcar! Foi muito forte
para a Gewürztraminer! Interessante observar isso, as vezes, escolhemos
acompanhamentos para os nossos vinhos que simplesmente fazem o vinho sumir!
O caqui é uma fruta doce, imagina
o caqui chocolate, maduro, sem taninos que provocam aquela sensação de secura
na boca! O vinho encontrou seu paraíso! A untuosidade do caqui foi limpada pela
acidez, os açucares se somaram e algo refrescante tomou conta da boca! Minha
dica é uma harmonização desta após um almoço cujo prato principal tenha sido
uma massa com molho vermelho! Excelente!
O Kiwi é uma fruta muito
apreciada pelos seus sabores cítricos, com uma acidez alta e doçura picante!
Vamos chegar a uma conclusão muito interessante, nosso vinho não aguenta
alimentos com alta acidez, como o Kiwi. Toda a acidez do vinho foi sobrepujada
pela acidez da fruta, sobrando somente o amargor! Não houve equilíbrio entre os
alimentos, ou seja, a harmonização não existe! Harmonização é equilíbrio e
soma!
A goiaba possui uma polpa muito
suculenta, doce e aromática! Uma acidez mediana, mais pronunciada na casca que
também contém um certo amargor e taninos. Se comermos a goiaba com casca, a
acidez total será maior que o vinho, e os taninos e o amargor tomarão conta do
palato! Mas se retirarmos toda a casca da goiaba, temos uma harmonização
perfeita entre o vinho e a fruta!
É importante frisarmos que
estamos descobrindo vários detalhes sobre acidez, amargor, álcool, doçura e
taninos! Correto?
Parti para uma pêra madura, com
uma deliciosa polpa branca, cheia de doçura, pouca acidez e quase nenhum
amargor! O vinho harmonizou perfeitamente trazendo aquela sensação gostosa de
mel para o palato! Podemos concluir que frutas de polpa generosa harmonizam muito
bem com este vinho! Para comprovarmos esta tese, vamos partir para a nossa
última fruta, rica em polpa e doçura!
Uma suculenta manga, com toda a
doçura da sua polpa, acidez mediana para baixa, harmonizou perfeitamente com o
vinho, trazendo uma sensação refrescante a cada gole! Uma combinação perfeita
para um fim de tarde na praia, na piscina, ou na varanda do apartamento! O
importante é sentir o frescor desta harmonia.
Concluo que as frutas podem ser
excelentes parceiras para os vinhos, mas alguns detalhes precisam ser
observados como, por exemplo, os taninos que na sua totalidade estão nas
cascas, o amargor da fruta utilizada e, principalmente, a acidez! Se a fruta
possuir uma acidez muito superior à acidez do vinho, é muito provável que a
sensação de amargor tome conta do palato!
Adelante!